Os sotaques do sudeste: como capixaba, carioca, mineiro e paulista falam?

O sotaque do sudeste é fácil de identificar. Você escuta um papo na rodoviária, e até confunde sotaques do sul ou do nordeste. Mas os sotaques do Sudeste têm sons muito particulares.

Uma vez no Lollapalooza, rodando e trocando ideia com a galera, um cara puxa o S, o outro manda um "da hora" e uma menina disse "uai". Jeito de falar inconfundível: carioca, paulista e mineira.





E em cada canto do Sudeste, as pessoas chamam um sujeito ao seu modo. Em Sampa, a galera chama os outros de "mano", em Vitória é "bicho", em BH é "fío", e no Rio...

Carioca chama os outros de "maluco"... Uma vez tava em Curitiba com um amigo carioca e era "chega aê, maluco" pro taxista, pro garçom, pro recepcionista do hostel... É engraçado o susto que uns levam.

Alguns desses regionalismos precisam até de uma certa "tradução". Pelas praias do Rio, um ambulante tem que se virar! O "sacolé" é "geladinho" no ES e "chup-chup" em SP, onde chamam biscoito de "bolacha".





Tem coisa que muda no próprio estado. O "totó", como é chamado no RJ, ES e Belo Horizonte, ganha o nome de "pebolim" em SP e no sul de Minas. No Museu do Futebol de São Paulo rolam essas explicações.

Até o pãozinho, tão comum, você "traduz" em lugares próximos. Santos tem muita padaria e o pãozinho é chamado de "média". Em Sampa já é "pão francês", e no norte do Rio e no ES, já vira "pão de sal"

O curioso é um salgado de padaria, que parece uma broa enrolada e recheada com queijo e presunto. No Rio é um "joelho", em Niterói é "italiano", em Vitória é "bauru" e em Sampa é "bauru de forno".





Mas melhor gíria regional é "trem"... Dentro do trem Vitória-Minas, já ouvi um mineiro dizer "esse trem tá pesado", só que ele falava da mala dele e não do trem, se é que você me entende...

O sotaque mineiro é inevitável. Tava no Marquês da Gávea, um bar do Rio cheio de gringo... A mineira conversa em inglês com sotaque e na hora de perguntar "why", escapou um "UAI" carregado, e em alto e bom som.

Curioso é paulistano, que não percebe o seu sotaque... Em um hostel de BH, a paulistana diz que não tem sotaque, depois de soltar um "mano", "superrr sussa" e "meeeooo"...

Entre os capixabas, rola um mix de gírias do Rio, da Bahia (eita), do Ceará (pocar), do Pernambuco (massa)... É outro povo que diz não ter sotaque, mas tem um leve chiado (Terceira Pontchi) e trocam O pelo U (Morru du Morenu)...

Já o carioca muda gíria de verão em verão, dependendo do novo hit do funk. Dessa maneira, as gírias envelhencem e aí hoje só coroa diz "sinistro", "mermão" e "manero", pois a molecada fala "deu ruim", "lek" e "cê é louco"...

Falar de sotaque rende muito. Um post só não dá pra explicar tudo... O jeito é vocês aguardarem, que eu já vou preparar o próximo...

Pra fechar, segue aí um glossário das gírias que ilustram mais os sotaques:

VOCABULÁRIO CAPIXABA:
GASTURA = agonia ou aflição com algo irritante, como um arrastar um giz no quadro-negro ou colocar o dedo na pupila.
MASSA VÉI = uma situação ou coisa legal, bacana...
MOQUECA = peixada. Moqueca é algo que parece comum no vocabulário brasileiro, mas tem lugar na Região Sul que as pessoas só entendem peixada.
POCAR = algo como "mandar muito bem", arrebentar, arrasar. Tem origem da palavra "espocar", aí vale também como estourar.

VOCABULÁRIO CARIOCA:
BOTO FÉ = quer dizer "ah, sim! entendi" ou "concordo contigo".
MALUCO = um sujeito qualquer, cara, amigo.
MANERO = mesma coisa do "massa véi" do capixaba.
QUAL É? = algo como "tudo bem contigo?" ou "como vai você?", tipo um "what's up", em inglês.
SAQUEI = "entendi".

VOCABULÁRIO MINEIRO:
BIBOCA = um lugar muito distante e mal habitado, equivale a um "quinto dos infernos", ou "onde Judas perdeu as botas".
MARRADO NO TOCO = equivale a "estou em um beco sem saída" ou "de mãos atadas".
TÔ NA RÔIA = muito ocupado ou em uma situação complicada.
TREM = um objeto ou coisa qualquer.
UAI = tem vários significados. Por expressar "mas é claro", "não me diga?", uma simples exclamação, dúvida em uma resposta, pra concordar com algo, depende do contexto do diálogo.

VOCABULÁRIO PAULISTA:
FIRMEZA (MANO)? = a mesma coisa do "qual é" carioca, "tudo bem contigo?", "como vai você?"...
MANO = quer dizer cara, camarada, amigo...
MÊO (MEU) = a mesma coisa de "mano".
SE PÁ = equivale a algo como "de repente" ou "se der bobeira".

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